Entregando-nos à oração

Esta, no entanto, não é uma era de oração; poucos se dedicam a isso. A oração é menosprezada por pregador e sacerdote. Nesses dias de correria e pressão, as pessoas não querem tirar tempo para orar. Há pregadores que “fazem orações” como uma parte do seu programa, em ocasiões regulares ou oficiais, mas “ninguém há que invoque o teu nome, que se desperte, e te detenha” (Is 64.7). Quem ora como Jacó – até ser coroado como príncipe e intercessor perseverante? Quem ora como Elias – até que todas as forças bloqueadas da natureza sejam abertas e a terra castigada e faminta floresça como o jardim de Deus? Quem ora como Jesus que saiu para o monte e permaneceu toda a “noite orando a Deus” (Lc 6.12)? 

Os apóstolos se consagraram à oração (At 6.4). Não há nada mais difícil do que levar as pessoas e, até mesmo, os pregadores a fazerem isso. Alguns até doam seu dinheiro – alguns em abundância –, mas não querem “entregar-se” à oração. Há muitos pregadores que são capazes de dar grandes discursos, com muita eloquência, sobre a necessidade de avivamento e da expansão do Reino de Deus –, mas pouquíssimos estão dispostos a fazer aquilo sem o qual toda pregação e todo planejamento serão menos do que inúteis: ORAR. Está fora de moda, uma arte quase perdida, e o maior benfeitor que a nossa geração poderia ter seria um homem [ou um ministério] que trouxesse os pregadores e a Igreja de volta à oração.

Isto afirmamos como o nosso mais sóbrio juízo: a grande necessidade da Igreja nesta era – e em todas as épocas – é de homens de tal convicção, de tal santidade sem mancha, de tal vigor espiritual e zelo apaixonado que suas orações, sua fé, sua vida e seu ministério sejam tão radicais e agressivos que produzam revoluções espirituais, que marquem época em vidas individuais e na Igreja.

Não estamos falando de homens que produzem agitações sensacionalistas por meio de estratégias originais, nem que atraem multidões por meio de entretenimento agradável; estamos nos referindo a homens que possam trazer despertamento e produzir revoluções pela pregação da Palavra de Deus e pelo poder do Espírito Santo, revoluções que transformem toda a corrente e a direção dos acontecimentos.

Capacidade natural e vantagens de estudo ou cultura não figuram como fatores nessa questão, mas capacidade de fé, capacidade de orar, o poder da consagração total, a habilidade de diminuir ou ignorar a si mesmo, uma absoluta perda do "eu" na glória de Deus e uma constante e insaciável busca e aspiração por toda a plenitude de Deus. Homens assim podem inflamar a Igreja para Deus, não de uma maneira barulhenta e ostentosa, mas com um intenso e silencioso calor que derrete e move todas as coisas para Deus.

Deus pode operar maravilhas – se puder encontrar os homens certos. Os homens podem operar maravilhas – se puderem conhecer a Deus e ser guiados por ele. O pleno revestimento do Espírito, que transtornou o mundo no tempo da igreja primitiva, é essencial também nestes últimos dias. Homens que sejam usados por Deus para alvoroçar poderosamente o estado das coisas para Deus, que tragam revoluções espirituais para mudar todo o aspecto das coisas são a maior necessidade da Igreja em todo o mundo.

Edward McKendree Bounds (1835-1913)

2 comentários:

  1. Estava refletindo uma questão polêmica. Lendo o artigo, resolvi introduzi-la. As questões abaixo a revelarão.

    O que os protestantes oferecem a Deus (ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo)?

    Essas questões, hipóteses, são importantes e servem de teste:

    Os protestantes (1)lembram-se de Jesus, principalmente e, às vezes, essa lembrança limita-se a, em determinadas datas, (2)expondo Sua vida como exemplo aos crentes, (3)saindo às ruas em caminhada em Sua homenagem, (4)e pedindo a Ele intercessão, dizendo: Senhor Jesus rogai por nós?

    Fazem SOMENTE “isso tudo”((1),(2),(3),(4)), e pronto?

    Se isso é adoração, não é necessário, naturalmente, fazer nada a mais, pois está no ÁPICE do culto cristão, e está sendo cumprido, como é dever do crente.

    Do contrário, ou seja, se não for adoração, o que falta então?

    Gledson.

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  2. Colocando de outra forma:

    1) Essas ações (1)fazer memória do Senhor Jesus Cristo, da Sua vida(em determinadas datas comemorativas) (2) tê-Lo como exemplo de vida cristã (3) homenageá-Lo publicamente(e privadamente também) (4)pedir-Lhe intercessão, diante de Deus, para alcançar graças(saúde, livramento, prosperidade...), são ações que constituem a adoraçãoa Jesus?

    Obrigado.

    2)

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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