A relação entre a justiça das obras e a justiça da fé

Não se pode duvidar de que as boas obras que procedem de uma consciência purificada sejam agradáveis a Deus: ao reconhecer em nós sua própria justiça, não pode menos que aprová-la e estimá-la. 

Não obstante, devemos procurar cuidadosamente não deixar-nos arrastar por uma vã confiança nas boas obras de modo tal que esqueçamos a justificação pela só fé em Cristo. Pois a única justificação das obras que existe claramente de Deus é a que corresponde a sua justiça. Para quem quer ser justificado pelas obras, não basta, portanto, realizar boas obras, senão que necessita mostrar uma perfeita obediência à Lei. E até os que melhor e mais que os outros adiantaram na Lei do Senhor, estão ainda muito longe desta perfeita obediência.

Mais ainda: incluso se a justiça de Deus quiser contentar-se com uma única boa obra, não encontraria o Senhor em seus santos essa única boa obra merecedora de fazer o elogio da justiça. Pois, por mais estranho que pareça, é absolutamente certo que nem uma única obra procede de nós com absoluta perfeição e sem estar obscurecida com alguma mácula.

Eis aqui o por quê, sendo todos pecadores, e estando maculados com inúmeras marcas de pecado, temos que sermos justificados desde fora. Sempre, pois, temos necessidade de Cristo para que sua perfeição cobra nossa imperfeição, para que sua pureza lave nossas manchas, para que sua obediência apague nossa injustiça, para que, finalmente, sua justiça nos seja gratuitamente imputada, sem consideração alguma a nossas obras, cujo valor não pode subsistir ante o juízo de Deus.

Mas quando nossas manchas —que de outro modo contaminam nossas obras ante Deus— são cobertas deste modo, o Senhor não vê em nossas obras mais que uma absoluta pureza e santidade. Por isso as honra com grandes títulos e elogios. As chama de justas e as têm por tais. Promete-lhes uma imensa recompensa.

Em resumo, temos que concluir que a comunhão com Cristo tem tal valor que, precisamente por ela, não só somos justificados gratuitamente, senão que, além disso, nossas obras são tidas por justas e recompensadas com uma remuneração eterna.

João Calvino
In: Breve Instrução Cristã

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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