Julgando de modo bíblico

Dizer que podemos julgar pessoas tanto quanto ensinos e práticas não significa que somos livres para, como satanás, sair pelas ruas caçando ferozmente os erros alheios e, com a boca espumando, bradar palavras de maldição contra outros. Um dos problemas da visão daqueles que proíbem julgamentos é que essa é a imagem que eles possuem sobre o julgamento. Acredito que essa é a visão que devemos ter do julgamento segundo o mundo, mas não do julgamento genuinamente cristão. Para evitar confusões, gostaria de listar alguns pontos que creio serem úteis para sabermos como julgar de um modo bíblico:

1. Tenha Cautela

"Portanto, nada julgueis antes de tempo, até que o Senhor venha, o qual também trará à luz as coisas ocultas das trevas, e manifestará os desígnios dos corações; e então cada um receberá de Deus o louvor" (1 Co 4:5). Devemos tomar sempre cuidado com julgamentos precipitados. Cristo, quando vier, trará luz sobre tudo o que antes estava oculto. Proteja-se de julgar erradamente, confie em Cristo e no julgamento correto que Ele trará.

2. Não seja um hipócrita

“Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão" (Mt 7: 5). Não devemos nunca julgar hipocritamente. Um assassino não pode reprovar outro, como diz o já citado verso de Romanos: “Portanto, você, que julga os outros é indesculpável; pois está condenando a si mesmo naquilo em que julga, visto que você, que julga, pratica as mesmas coisas” (Rm 2:1).

3. Não seja um carrasco...

”Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós” (Mt 7:2). Você deve lembrar que também será julgado por Deus, pois "...todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo..." (2Co 5:10) e tal julgamento começará pela Igreja (1Pe 4:17). Assim, sabendo que, com a medida com a qual julgamos outros, Deus nos julgará, devemos seguir com mais afinco a exortação Paulina: “Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o com espírito de brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado” (Gl 6:1).

Além disso, cuidado com julgamentos severos demais por pontos secundários. "O que come não despreze o que não come; e o que não come, não julgue o que come... Assim que não nos julguemos mais uns aos outros; antes seja o vosso propósito não pôr tropeço ou escândalo ao irmão..." (Rm 14:1; cf 1Co 10:23-33; Cl 2:16-17). Lembre-se que "... O Senhor conhece os que são seus ..." (2 Tm 2:19), logo, devemos evitar ao máximo agir erradamente com os filhos de Deus, ainda que eles sejam fracos na fé. Deus zela pela Sua Igreja; não queira ser um inimigo dela.

4. ...mas saiba quando ser severo

Depois de meditarmos sobre não sermos duros sem necessidade, precisamos considerar sobre sermos duros quando há necessidade. Paulo julgou com severidade um homem que abusava da mulher de seu pai (1 Co 5:1) e Jesus foi extremamente ofensivo com os judeus, chamando-os de hipócritas, raça de víboras, sepulcros, filhos do inferno, dentre outras coisas (Mt 23). Precisamos, muitas vezes, ser duros com os falsos mestres e com os falsos cristãos. Seja sábio para discernir com quem você está lidando, se com um cristão fraco ou com um falso crente. Às vezes, precisaremos expor os pecados de outros e julgá-los como condenados para impedir que eles continuem a enganar o povo de Deus. Esteja preparado para quando precisar agir assim.

5. Seja perdoador

Em João 8:1-11, temos o caso de quando os fariseus trouxeram uma mulher adúltera aos pés de Jesus, acusando-a de adultério. Quando lemos a história, em momento algum Jesus nega que ela seja pecadora. Jesus está, certamente, julgando aquela mulher como pecadora e adúltera, assim como aqueles judeus. A diferença entre o julgamento dos dois é notória: os religiosos queriam apedrejar a mulher, enquanto Jesus queria perdoá-la. No lugar de apedrejá-la, Cristo disse: "[Eu não] te condeno; vai-te, e não peques mais" (Jo 8:11). Existem outros exemplos de pecadores arrependidos que não foram julgados por Jesus, como Zaqueu (Lc 19:1-9) e a mulher que ungiu os pés de Cristo (Lc 7:36-50). Tome Cristo como exemplo e, antes de tudo, seja perdoador.

6. Tenha lágrimas nos olhos

Acredito que nenhum livro inspirado julga tanto os outros quanto Lamentações de Jeremias, pois todos os seus cinco capítulos são completamente recheados de juízos sobre o povo da época. Algo deve ser notado: Jeremias não escreveu um livro imparcial, mas sim um livro de lamentações. O profeta estava chorando pelos pecadores. Ele estava comovido por tudo que estava ocorrendo. Essa deve ser nossa atitude quando precisamos julgar alguém: precisamos ter os olhos marejados ou pelo pecado de nosso irmão ou pela incredulidade do ímpio.

Conta-se a história de um homem que foi ao pastor de sua congregação dizendo: “Deus falou comigo que algo muito ruim aconteceria com nossa cidade”. O sábio pastor, então, respondeu: “Eu sei que essa revelação não veio de Deus, pois, se ela fosse mesmo d’Ele, você diria isso com lágrimas nos olhos”. Que não caiamos neste mesmo erro.

7. Julgue justamente

Este último ponto resume todos os outros já citados. Cristo nos dá uma ordem: "Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça" (Jo 7:24). Esse texto deixa claro: devemos, sim, julgar. Porém, somos proibidos de julgar superficialmente, de acordo com as aparências ou com os nossos preconceitos. Só há uma maneira bíblica de julgar: julgando de acordo com a justiça de Deus. Não seja abominável a Deus: “O que justifica o ímpio, e o que condena o justo, tanto um como o outro são abomináveis ao SENHOR” (Pv 17:15).

Yago Martins

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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