O mito da liberdade espiritual

No entanto, muitos afirmam que a vontade humana faz a decisão crucial de vida espiritual ou de morte espiritual. Dizem que a vontade é totalmente livre para escolher a vida eterna oferecida em Jesus ou rejeitá-la. Dizem que Deus dará um novo coração a todos que, pelo poder de seu próprio livre-arbítrio, escolherem receber a Jesus Cristo.

Não pode haver dúvida de que receber a Jesus Cristo é um ato da vontade humana. É freqüentemente chamado de “fé”. Mas, como os homens chegam a receber espontaneamente o Senhor? A resposta habitual é: “Pelo poder de seu próprio livre-arbítrio?” Como pode ser isso? Jesus é um Profeta – e receber a Jesus significa crer em tudo que ele diz. Em João 8.41-45, Jesus deixou claro que você é filho de Satanás. Esse pai maligno odeia a verdade e transmitiu, por natureza, essa mesma propensão ao seu coração. Por essa razão, Jesus disse: “Porque eu digo a verdade, não me credes”. Como a vontade humana escolherá crer no que a mente humana odeia e nega?

Além disso, receber a Jesus significa aceitá-lo como Sacerdote – ou seja, utilizar-se dele e depender dele para obter paz com Deus, por meio de seu sacrifício e intercessão. Paulo nos diz que a mente com a qual nascemos é hostil a Deus (Rm 8.7). Como a vontade escapará da influência da natureza humana que foi nascida com uma inimizade violente para com Deus? Seria insensato a vontade escolher a paz quando todo as outras partes do homem clamam por rebelião.

Receber a Jesus também significa recebê-lo como Rei. Significa escolher obedecer seus mandamentos, confessar seu direito de governar e adorá-lo em seu trono. Mas a mente, as emoções e os desejos humanos clamam: “Não queremos que este reine sobre nós” (Lc 19.14). Se todo o meu ser odeia a verdade de Jesus, odeia seu governo e odeia a paz com Deus, como a minha vontade pode ser responsável por receber a Jesus? Como pode um pecador que possui tal natureza ter fé?

Não é a vontade do homem, e sim a graça de Deus, que tem ser louvada por dar a um pecador um novo coração. A menos que Deus mude o coração, crie um novo espírito de paz, veracidade e submissão, a vontade do homem não escolherá receber a Jesus Cristo e a vida eterna nele. Um novo coração tem de ser dado antes que um homem possa escolher, pois a vontade humana está desesperadamente escravizada à natureza má do homem até no que diz respeito à conversão. Jesus disse: “Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo” (Jo 3.7). A menos que você nasça de novo, jamais verá o reino de Deus.

Leia João 1.12-13. Essa passagem diz que aqueles que crêem em Jesus foram nascidos não “da vontade do homem, mas de Deus”. Assim como a sua vontade não é responsável por sua vinda a este mundo, assim também ela não é responsável pelo novo nascimento. É o seu Criador que tem de ser agradecido por sua vida. E, “se alguém está em Cristo, é nova criatura” (2 Co 5.17). Quem escolheu ser criado? Quando Lázaro ressuscitou dos mortos, ele pôde, então, escolher obedecer o chamado de Cristo, mas ele não pôde escolher vir à vida. Por isso, Paulo disse em Efésios 2.5: “Estando nós mortos em nossos delitos, [Deus] nos deu vida juntamente com Cristo, — pela graça sois salvos” (Ef 2.5). A fé é o primeiro ato de uma vontade que foi tornada nova pelo Espírito Santo. Receber a Cristo é um ato do homem, assim como respirar, mas, primeiramente, Deus tem de dar a vida.

Não é surpreendente que Martinho Lutero tenha escrito um livro intitulado A Escravidão da Vontade, que ele considerava um de seus mais importantes tratados. A vontade está presa nas cadeias de uma natureza humana má. Você que exalta, com grande força, o livre-arbítrio está se agarrando a uma raiz de orgulho. O homem, caído no pecado, é totalmente incapaz e desamparado. A vontade do homem não oferece qualquer esperança. Foi a vontade, ao escolher o fruto proibido, que nos colocou em miséria. Somente a poderosa graça de Deus oferece livramento. Entregue-se à misericórdia de Deus para a sua salvação. Peça ao Espírito de Graça que crie um espírito novo em você.

Walter Chantry
Traduzido por: Wellington Ferreira
In: O mito do livre-arbítrio, pela Editora Fiel


6 comentários:

  1. Partindo das premissas:

    1) Deus criou todos nós, crentes e não-crentes (isso não está no seu texto, mas muito provavelmente você concorda com essa premissa)

    2) Eu sou incapaz de aceitar Deus por livre arbítrio (isso está no seu texto)

    3) O responsável por eu crer ou não crer em Deus é o próprio Deus (isso também está no seu texto)

    Se as premissas estão certas (e talvez eu tenha entendido algo errado, e você pode - e deve - me corrigir), então daí se conclui que se eu não creio nEle, é porque Ele mesmo não quer que eu creia, e portanto, me criou somente pra me mandar para o inferno.

    Isso não seria sadismo dEle?

    ResponderExcluir
  2. Uma semana e ninguém comenta? Cadê o autor desse texto???

    ResponderExcluir
  3. Olá Anônimo,

    Paz!

    Esta discussão é amplamente retomada neste Blog,no sguinte post:

    http://cincosolas.blogspot.com/2008/07/o-livre-arbtrio-bblico.html

    Também o debate segue neste outro post:

    http://cincosolas.blogspot.com/2011/03/o-mito-da-liberdade-circunstancial.html

    E aqui vai uma sugestão de leitura interessante e complementar a este texto:

    http://voltemosaoevangelho.com/blog/2011/02/doutrinas-da-graca-obstaculos-para-vir-a-cristo/

    Abç,

    Jairo

    ResponderExcluir
  4. Anônimo,

    Sinceramente, não havia visto seu comentário. Me desculpe.

    Estou num treinamento agora, teclado do celular. Assim que puder respondo sua pergunta.
    Jairo, obrigado pó indicar os links.
    Clóvis

    ResponderExcluir
  5. Jairo, obrigado pelos links, mas gostaria de - a princípio - me ater ao raciocínio lógico que formulei. Assim que tiver a resposta (e as ideias mais clareadas), vou lá conferir e participar...

    Clóvis, aguardo sua resposta, e acrescento:

    Se meu raciocínio está certo, partindo as mesmas premissas, chegamos à conclusão que seria impossível que um homem chegue a Deus somente pela própria razão.

    Pergunto porque foi exatamente isso que aconteceu com C. S. Lewis (história narrada no ótimo livro "Mero Cristianismo"): primeiro ele reconheceu que o ateísmo apresenta problemas insolúveis (e eles existem; pobres dos ateus que não percebem isso), chegando portanto, à conclusão que é necessário que exista um deus "por aí". Só depois de analisar algumas religiões, decidiu-se pelo cristianismo, que é a religião que mais lhe pareceu correta.

    Obrigado!

    ResponderExcluir

"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

Sua leitura deste post muito me honrou. Fique à vontade para expressar suas críticas, sugestões, complemetos ou correções. A única exigência é que seja mantido o clima de respeito e cordialidade que caracteriza este blog.