O ato contra o Mackenzie, a Soninha e o site do bispo

Lendo as notícias de ontem sobre o protesto em frente ao Mackenzie fiquei feliz e espantado. Feliz porque o ato transcorreu sem violência e até onde fui em minha leitura, sem maiores transtornos que os tradicionais "congestionamento e confusão no trânsito".

Mas espantei-me com alguns fatos. Um deles é o desencontro entre o que dizia a nota publicada pelo Chanceler Augustus Nicodemus Lopes e contra o que protestavam os cerca de 500 manifestantes. Minha avó diria "tanto barulho por tão pouco". Não que o texto publicado pelo Augustus não fosse relevante. Era e é, além de oportuno, apesar de ser de 2007. Mas o estardalhaço me pareceu desproporcional. De qualquer forma, eles fizeram uso da liberdade de consciência e de expressão, defendida na nota divulgada.

Outra coisa que me chamou a atenção é que nenhum dos manifestantes entrevistados, nos jornais e sites que li, fizeram menção a algum trecho do documento. Uma das entrevistadas diz "estamos indignados". Ou comentou "nos sentimos ofendidos com o texto publicado pelo chanceler. Esse é um ato de resposta. Lutamos por liberdade". Ora, a liberdade que eles já tem, tanto que a usaram para gritar "abaixo o chanceler!". Representativa de muitos que ali estavam é Soninha Francine, jornalista e política, que "embora não conhecesse o conteúdo da manifestação de Augustus Nicodemus Gomes Lopes, foi "gritar junto" porque ficou sabendo que haveria um protesto contra a homofobia". Dããã!

Agora, espantado mesmo fiquei ao ler a notícia no site da Igreja Universal, o R7. Diferentemente de outros sites, que fizeram uma cobertura até que isenta e imparcial, o canal do bispo mais uma vez fez das dele. Depois da manchete, o site "informava" que "Chanceler do Mackenzie discorda de projeto que criminaliza violência contra gays". No corpo da notícia, dizia que "o ato foi marcado depois que o chanceler e reverendo da instituição, Augustus Nicodemus Gomes Lopes, divulgou na internet uma carta se colocando contrário à aprovação do PLC (Projeto de Lei da Câmara), que propõe a criminalização de atos de violência física e verbal contra pessoas homossexuais". Em nenhum outro site se fazia a insinuação de que Augustus Nicodemus é contra a criminalização da violência contra homossexuais.

Segue abaixo a nota que causou todo esse barulho:

Manifesto Presbiteriano sobre a Lei da Homofobia

"Leitura: Salmo
O Salmo 1, juntamente com outras passagens da Bíblia, mostra que a ética da tradição judaico-cristã distingue entre comportamentos aceitáveis e não aceitáveis para o cristão. A nossa cultura está mais e mais permeada pelo relativismo moral e cada vez mais distante de referenciais que mostram o certo e o errado. Todavia, os cristãos se guiam pelos referenciais morais da Bíblia e não pelas mudanças de valores que ocorrem em todas as culturas.

Uma das questões que tem chamado a atenção do povo brasileiro é o projeto de lei em tramitação na Câmara que pretende tornar crime manifestações contrárias à homossexualidade. A Igreja Presbiteriana do Brasil, a Associada Vitalícia do Mackenzie, pronunciou-se recentemente sobre esse assunto. O pronunciamento afirma por um lado o respeito devido a todas as pessoas, independentemente de suas escolhas sexuais; por outro, afirma o direito da livre expressão, garantido pela Constituição, direito esse que será tolhido caso a chamada lei da homofobia seja aprovada.

A Universidade Presbiteriana Mackenzie, sendo de natureza confessional, cristã e reformada, guia-se em sua ética pelos valores presbiterianos. O manifesto presbiteriano sobre a homofobia, reproduzido abaixo, serve de orientação à comunidade acadêmica, quanto ao que pensa a Associada Vitalícia sobre esse assunto:

“Quanto à chamada LEI DA HOMOFOBIA, que parte do princípio que toda manifestação contrária ao homossexualismo é homofóbica, e que caracteriza como crime todas essas manifestações, a Igreja Presbiteriana do Brasil repudia a caracterização da expressão do ensino bíblico sobre o homossexualismo como sendo homofobia, ao mesmo tempo em que repudia qualquer forma de violência contra o ser humano criado à imagem de Deus, o que inclui homossexuais e quaisquer outros cidadãos.
Visto que: (1) a promulgação da nossa Carta Magna em 1988 já previa direitos e garantias individuais para todos os cidadãos brasileiros; (2) as medidas legais que surgiram visando beneficiar homossexuais, como o reconhecimento da sua união estável, a adoção por homossexuais, o direito patrimonial e a previsão de benefícios por parte do INSS foram tomadas buscando resolver casos concretos sem, contudo, observar o interesse público, o bem comum e a legislação pátria vigente; (3) a liberdade religiosa assegura a todo cidadão brasileiro a exposição de sua fé sem a interferência do Estado, sendo a este vedada a interferência nas formas de culto, na subvenção de quaisquer cultos e ainda na própria opção pela inexistência de fé e culto; (4) a liberdade de expressão, como direito individual e coletivo, corrobora com a mãe das liberdades, a liberdade de consciência, mantendo o Estado eqüidistante das manifestações cúlticas em todas as culturas e expressões religiosas do nosso País; (5) as Escrituras Sagradas, sobre as quais a Igreja Presbiteriana do Brasil firma suas crenças e práticas, ensinam que Deus criou a humanidade com uma diferenciação sexual (homem e mulher) e com propósitos heterossexuais específicos que envolvem o casamento, a unidade sexual e a procriação; e que Jesus Cristo ratificou esse entendimento ao dizer, “. . . desde o princípio da criação, Deus os fez homem e mulher” (Marcos 10.6); e que os apóstolos de Cristo entendiam que a prática homossexual era pecaminosa e contrária aos planos originais de Deus (Romanos 1.24-27; 1Coríntios 6:9-11).

A Igreja Presbiteriana do Brasil MANIFESTA-SE contra a aprovação da chamada lei da homofobia, por entender que ensinar e pregar contra a prática do homossexualismo não é homofobia, por entender que uma lei dessa natureza maximiza direitos a um determinado grupo de cidadãos, ao mesmo tempo em que minimiza, atrofia e falece direitos e princípios já determinados principalmente pela Carta Magna e pela Declaração Universal de Direitos Humanos; e por entender que tal lei interfere diretamente na liberdade e na missão das igrejas de todas orientações de falarem, pregarem e ensinarem sobre a conduta e o comportamento ético de todos, inclusive dos homossexuais.

Portanto, a Igreja Presbiteriana do Brasil reafirma seu direito de expressar-se, em público e em privado, sobre todo e qualquer comportamento humano, no cumprimento de sua missão de anunciar o Evangelho, conclamando a todos ao arrependimento e à fé em Jesus Cristo”.

Rev. Dr. Augustus Nicodemus Gomes Lopes
Chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie"

Sites que li:

http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2010/11/manifestantes-caminham-ate-local-onde-homossexuais-foram-agredidos.html

http://www.estadao.com.br/noticias/geral,grupo-protesta-contra-posicao-de-universidade-de-sp,644818,0.htm

http://gestao.redebrasilatual.com.br/temas/cidadania/2010/11/protesto-diante-do-mackenzie-pede-combate-a-homofobia-em-sp

http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/universitarios+protestam+contra+texto+sobre+homofobia+em+sp/n1237838427773.html

http://www.band.com.br/jornalismo/cidades/conteudo.asp?ID=100000371833

http://g1.globo.com/vestibular-e-educacao/noticia/2010/11/jovens-protestam-contra-homofobia-em-frente-ao-mackenzie-em-sp.html

http://noticias.r7.com/sao-paulo/noticias/estudantes-fazem-protesto-contra-a-homofobia-emfrente-a-uma-universidade-particular-de-sp-20101124.html

9 comentários:

  1. Clóvis,
    Sem contar a matéria que a Record fez há alguns dias, quando da retirada do documento do site do Mackenzie.
    Cá entre nós, também senti uma leve "hostilidade" das Organizações Edir Macedo em todo este episódio.
    Seria por que a IPB não apoiou a Dilma, candidata do Edir? Ou, como desconfio, já seria um preâmbulo para a aceitação oficial da homossexualidae dentro da cúpula da Universal (assim como a questão do aborto)?
    Como diria a sábia Dona Milú: mistééééériossss

    Abraços!

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  2. Nani,

    Acho que o motivo é o fato da IPB ser (talvez) a única denominação que teve a coragem de considerar oficialmente a IURD como seite.

    E claro, não me surpreenderia nem um pouco se o Macedo declarasse o homossexualismo como normal e aceitável no seio da igreja.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  3. Como sempre, a calúnia lidera o fronte contra a Igreja. Desde quando falavam que os 'do caminho' eram canibais, pois comiam o corpo e bebiam o sangue. Mentiras, desinformações...

    O curioso é que eles poderiam até fazer o tal do manifesto pelo que é realmente verdade, o que o Chanceler realmente disse... mas não, nem sabem do que estão falando.

    Tem mão do capiroto liderando essa bagunça... obviamente.

    ...

    Pelo menos foi pacífica.

    Podemos ficar tranquilos, o homosexualismo ainda não é obrigatório aqui.

    Paz!

    Raphael Amin

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  4. Raphael,

    Lembro de uma frase do Arnaldo Jabor que é mais ou menos assim: "sou do tempo em que o homossexualismo era proibido, agora é permitido, vou embora antes que se torne obrigatório".

    Clóvis

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  5. impressionante, a Soninha representa muito bem como que alguns dentro desses movimentos agem: nem lê o que o Manifesto dizia, mas é contra a homofobia , então tá la "gritando junto?" vergonha.

    pelo menos, diferente disso, muitos blogueiros na Web tem se manifestado a favor do Mackenzie com conhecimento de causa! não é por seguir esse ou aquele que diz que é errado só por dizer

    e é claro e evidente , e mostra claramente como que a IURD está é interessada nos interesses dela, afinal de contas, o importante lá e a cura,a prosperidade e o dízimo, isso é MUITO importante.

    Abraços
    Armando

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  6. Clóvis e demais irmãos.

    Também acho que a reportagem da Record foi direcionada para "atacar" a igreja que os considera comos seitas.

    Outra coisa, não me admira que a Record defenda os homossexuais, isso é lógico! Ora, se a igreja que controla a TV é a favor do aborto, o que falta para ela apoiar o homossexualismo?

    Eu não me surpreendo mais nada do que vem desta "Seita Universal do Reino de Edir".

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  7. Concordo com o Clóvis, é pura retaliação. Uma vez mais devemos expressar nossa admiração a IPB, que teve a ousadia de classificar o todo poderoso da IURD como herege e sectário.

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  8. Todos nós temos o direito de expressar nossas opiniões,e escolher qual caminho seguir. Acontece que os homossexuais são sempre as vitimas e sempre estão com razão a mente já esta presa por uma prisão espiritual,o primeiro passo para o verdadeiro arrependimento é reconhecer nosso pecados .

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  9. A liberdade de expressão é um direito inalienável; este é um principio básico, fundamental em qualquer democracia. Assim, nenhum grupo, e nenhuma pessoa, ou mesmo ideologia, está acima da critica, ou do contradito.

    Isso é básico.

    Porém, o projeto de Lei questionado pelo Chanceler da referida Universidade, pretender criar no Brasil um grupo especial de pessoas, que estará, quando aprovada a lei, acima de toda e qualquer critica e questionamento.

    Isso é assustador.

    Isso é, também, hipócrita e irracional.

    Sim! Pois, na contramão, os movimentos gays podem seguir normalmente destilando veneno contra a religião alheia, ou então, pasmem!, defendendo abertamente, em alguns casos, projetos que defendem o comportamento pedófilo. Que ninguém ouse negar, por exemplo, que boa parte dos esforços mundiais para se reduzir a idade mínima para sexo consentido tenha as mãos de tais organizações na regência...

    Como disse alguém, é a ditadura dos tolerantes!

    Que venham!

    Paz e bem

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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