Reforma Protestante: 493 anos!

Usei esta frase outro dia em um devocional: "Eu mais o Senhor somos maioria!" Esta é uma frase de efeito, mas não é só isso. Ela contém uma verdade fundamental, e uma afirmação de fé muito consistente. Quando aplicamos essa frase à Reforma podemos ver a ação de Deus na história, usando Lutero como instrumento na restauração da verdade.

Quando pensamos na Reforma falamos do movimento religioso que propunha reformar uma série de doutrinas e práticas que estavam em vigor na Igreja e que não estavam de acordo com princípios cristãos expostos na Bíblia. Lutero não queria e nunca foi sua intenção fundar uma nova Igreja, mas sim que a Igreja reconhecesse seus erros e os coibisse. Muitos não vêem neste período mais do que um movimento de oposição político-religioso, mas queremos lembrar que ele foi bem mais do que isso, ele foi um movimento de fé, motivado e empurrado por ela para o resgate de uma verdade necessária e fundamental para todo o ser humano, de que nós somos salvos, vivemos e somos perdoados por um ato da misericórdia e da bondade de nosso Deus, que veio ao nosso encontro no seu Filho o Salvador Jesus. Não foi porque fizemos alguma coisa, mas porque Deus nos amou.

Conta a história que Lutero, já professor e doutor, numa das noites de 1514 fez uma grande descoberta. Estava trabalhando em suas anotações sobre o livro de Salmos. O salmista tinha citado as palavras que Jesus proferiu sobre a cruz: "Deus meu, Deus meu porque me abandonaste?" Lutero estava intrigado, porque haveria o santo filho de Deus sentir-se abandonado pelo Pai? Lutero tinha se sentido assim muitas vezes, mas ele era pecador e Jesus era puro e sem pecado. A única resposta é que Cristo tomou sobre si mesmo os nossos pecados. Certamente o Deus que fez isso por nós é um Deus misericordioso! No entanto Deus não é apenas misericordioso; ele é também santo e justo. Lutero já tinha se deparado com as palavras, "Justiça de Deus!"

Para ele isso mostrava que Deus demonstra a sua justiça e sua retidão castigando os pecadores, essas palavras eram motivo de temor. Como Paulo muitas vezes desenvolve esse conceito, Lutero se volta para as suas cartas na tentativa de entendê-lo melhor. Em Romanos 1.17 podemos ler: "Visto que a justiça de Deus se revela no Evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé". Lutero pode perceber o real significado do termo "Justiça de Deus", que não significa a bondade que o próprio Deus tem, mas sim a bondade que ele nos outorga, essa justiça não é uma recompensa, mas sim um presente gratuito dado a todo aquele que crê que Jesus sofreu e morreu pelos seus pecados, em seu lugar. Lutero ficou emocionado com essa redescoberta e disse: "Senti-me exatamente como se tivesse nascido de novo". Pela primeira vez em sua vida Lutero pode ter a certeza de que os seus pecados estavam perdoados. Deus não deixou de ser justo, ele castigou o pecado, mas não em nós, ele castigou o pecado em seu Filho.

Deus, em sua sabedoria, providenciou um momento histórico propício para que a Reforma pudesse acontecer. No dia 31 de Outubro de 1517, Lutero fixa na porta da Catedral de Wittemberg, 95 despretensiosas teses. Lutero se propunha a um debate acadêmico sobre o valor das indulgências e seus efeitos na vida dos cristãos, das Comunidades Cristãs e da Igreja Cristã. A partir desse momento, nem Lutero poderia ter previsto o que iria acontecer. Os fatos se desenrolaram de tal forma que Lutero foi levado a defender e aprofundar cada vez mais as verdades que defendia. Ele estava se indispondo contra a autoridade máxima do Império. O fato é que a Reforma se desencadeia e Lutero em pouco tempo se vê diante do próprio Imperador defendendo essas verdades.

Apesar do Papa ter excomungado Lutero em janeiro de 1521, quem poderia declarar Lutero um fora-da-lei era o Imperador Carlos V, mas o Imperador precisava do apoio da Alemanha contra a França e os Turcos e não podia se indispor contra os príncipes eleitores da Alemanha. Lutero, como poucos, viveu a frase acima. "Eu e Deus somos maioria!" Muitas vezes ele questionou se estava de fato certo. Mas amparado pela Palavra de Deus e pela certeza de que estava de acordo com ela, compareceu diante do Imperador na dieta de Worms para defender as verdades bíblicas e doutrinárias redescobertas na Palavra e expostas em seus escritos. Os seus amigos insistiram para que ele não fosse, ao que ele respondeu: "Cristo ainda vive, e eu entrarei em Worms a despeito dos portões do Inferno e dos poderes das trevas." Num primeiro momento, em que estavam presentes todas as autoridades do Império, e o próprio Imperador, lhe lançaram uma pergunta de duplo sentido em que cabia a ele apenas se retratar, "Dr. Lutero, o senhor admite que esses livros são seus e que estava errado no que escreveu?" Os títulos foram lidos e Lutero pede um tempo para pensar, pois argumenta que a questão diz respeito a Deus e a fé das pessoas. No dia seguinte Lutero, mais seguro, responde sobre a questão, e diz: "A menos que me convençam pela Escritura ou por razões claras, de que estou errado, eu permaneço constrangido pelas Escrituras. Não posso me retratar, Deus me ajude. Amém." Ali estava Lutero! Sozinho? Não, com a maioria que é Deus. Deus estava no contexto histórico e político, nos amigos que o apoiavam, nos príncipes cristãos que reconheceram em seus escritos a autoridade da Palavra, ou seja, Lutero mais Deus era maioria!

Tudo isso é mais do que uma boa história. O que a mensagem da Reforma tem a nos dizer ainda hoje? Tudo o que o próprio Evangelho nos diz, e o que relembra o apóstolo Paulo em Efésios 2. 8-9 "Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie." O centro do próprio Evangelho é o que Lutero redescobriu de que nós somos salvos por um ato de pura bondade e amor de nosso Deus, a Graça, e que recebemos essa salvação pela fé em Jesus.

Qual a relevância dessa mensagem hoje?

- Penso nas muitas pessoas que se sentem culpadas por causa de seus pecados e não tem a certeza de saberem que são perdoadas pela Graça de Deus.

- Penso nas muitas pessoas que ainda hoje vivem em sistemas religiosos que não deixam claro o favor de Deus.

- Penso nas muitas pessoas que não se sentem amadas e queridas, por não terem a consciência de que Jesus morreu por todo o mundo, mas que morreu por elas individualmente.

- Penso nas muitas pessoas que se esforçam muito em suas vidas, e tentam assim comprar a salvação e obter o favor de Deus e não tem a certeza de que o favor de Deus é Graça de graça.

- Penso nas muitas pessoas que poderiam viver com alegria a sua fé, capacitadas por Deus, por amor e gratidão ao Salvador, mas ainda tem pavor de Deus.

- Penso nas muitas pessoas desesperadas na hora de sua morte por uma consciência atribulada e que morrem em completo desespero.

- Penso nas muitas pessoas que vão ser condenadas ao inferno por não confiarem em Jesus como seu Salvador.

- Por todos esses motivos lembrar de que nós somos salvos pela graça de Deus é a coisa mais importante que nós podemos fazer.

Que Deus nos abençoe quando celebramos a Reforma, que não seja apenas o momento de exaltar um herói da fé como foi Lutero, mas seja um momento de gratidão pela Salvação que nós temos em Cristo. Amém

"O justo viverá por fé." Romanos 1.17.

Rev. Rubens José Ogg - Secretário Nacional da IELB (Ig. Evangélica Luterana do Brasil)

16 comentários:

  1. Parabéns por se lembrar da Reforma e nos edificar com este texto maravilhoso. Que o Senhor te abençoe ricamente.

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  2. Giorgio,

    Seja bem vindo. Infelizmente, o mundo vê esta data como dia das bruxas ou halloween e a igreja está tão envolta na política que se esqueceu ou não dá importância à data.

    Mas nós damos graças a Deus por ter feito a luz do evangelho brilhar nas trevas e chegar até nós.

    Que o Senhor reforme e avive a Sua igreja!

    Em Cristo,

    Clóvis

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  3. Irmãos,

    A propósito do Dia da Reforma, leia a Entrevista com Lutero, publicada no blog do Jesemar Bessa.

    Vale a pena.

    Em Cristo.

    Clóvis

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  4. Irmãos,

    Ciro Zibordi também abordou o tema da Reforma, analisando se existe conexão este e o dia das bruxas e a eleição para presidente.

    E ele viu, pedindo que no Dia da Reforma não sejam eleitos os bruxos. Agora, quem são os bruxos na opinião do pastor, eu não sei.

    Aliás, desconfio, mas como não sou Daniel Mastral, não vou fazer insinuações. Ou vou. Quem lê entenda.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  5. Irmãos,

    O Ednaldo, do Divinitatis Doctor prometeu uma semana de meditações sobre a história da reforma e suas aplicações práticas.

    Começou brindando com um papel de parede.

    Acompanhe.

    Clóvis

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  6. Não poderia faltar, a dica dos videos do Voltemos ao Evangelho.

    O VE dispensa comentários.

    E se você publicou ou leu algum artigo sobre o Dia da Reforma, deixe aqui sua indicação.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  7. O Bereianos republica o artigo de Augustus Nicodemos: Sempre Reformando ou Sempre Mudando?.

    O autor dispensa recomendações.

    Clóvis

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  8. Caro Clóvís,

    Mais uma vez um belo trabalho em prol do genuíno evangelho das Escrituras. Parabéns pela postagem e recomendações de links tão importantes. Eu li todos eles. Valeu apena!

    Quero ainda sugerir a leitura do artigo "Dia da Reforma Protestante" no blog [Idéias Protestantes]:

    http://www.marcossampaio.com.br/2010/10/dia-da-reforma-protestante.html

    Um forte abraço.
    Marcos Sampaio
    http://www.marcossampaio.com.br
    [Idéias Protestantes]

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  9. o justo viverá pela fé, lutero encasquetou com romanos e galatas, como que só novo testamento fosse baseado nos 2 livros, ele alem de retirar 6 livros do antigo testamento, e utilizar o canon hebraico, queria retirar tambem tiago, ao qual dizia que é epistola de palha , pois tiago ia contra a sola fide inventada por lutero para embasar sua ruptura com a igreja de cristo, quando tiago disse "a fé sem as obras é morta em si mesma", lutero ficou furioso em saber disso, até o apocalipse ele queria retirar do novo testamento, e depois dizem que lutero era um homem irrepreensivel, um heroi da fé, entrou para o monasterio agostiniano sem vocação sacerdotal, por uma promessa a santa ana por livra lo de um raio, viveu neuroticamente sendo acharcado pelo demonio, etcc... casou se com uma freira, abandonou o sacerdocio, bebia muito e ao contrario de cristo que pedia ao pai a unidade dos cristãos , uma só fé , um so batismo e consequentemente uma só igreja, o sr. lutero causou no seculo dezesseis ou seja 1500 anos após a fundação da igreja sobre a tutela de pedro pelo proprio cristo , a sua igreja, como se ele pudesse fundar algo sobre os fundamentos de cristo... muita pretenção não???, essé é o lutero que voces admiram tanto. estudem melhor a biografia dele e saberão que ao contrario de são francisco de assis, que não concordava com a pecabilidade dos filhos da igreja , nao abandonou o barco de cristo, a reformou a igreja , una, santa, catolica e apostolica sem sair dela...

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  10. reforma protestante 493 anos, igreja catolica apostolica romana 2011 anos. se voce fosse se aconselhar , quem voce procuraria alguem com a experiencia de vida de 493 anos ou um sábio anciao com 2011 anos de vida para lhe orientar..????

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  11. É pra rir ou pra chorar?

    Igual na mesa de familia no almoço de domingo, chega a sobremesa né, aquele pavê enorme, ai vai que tem um pra perguntar:

    - É pavê ou pacomer?

    =D

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  12. Anonimo de 15 de julho de 2011 14:17,

    O que é o Evangelho?

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  13. Oi Neto,

    Ainda hoje estava pensando em você e preocupado com seu sumiço. Some não rapaz. Tudo bem com você.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  14. Querido amigo e irmão Clóvis,

    Estou sumido da internet em geral.
    Mas é em participação apenas, pois QUASE todo dia estou visitando o 5 Solas. ;)

    Entrarei em contato via e-mail, explicando a situação.

    Graças a Deus, estou bem.

    Deus o abençoe, em Cristo.

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  15. Neto,

    Desde já oro para que Deus intervenha na situação. E quando receber o email, poderei orar com mais objetividade.

    Em Cristo,

    Clóvis

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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