O Twitter é uma rede social e servidor de microblog que permite aos seus usuários enviar mensagens de até 140 caracteres aos seu contatos (seguidores) e acompanhar as mensagens postadas por eles. Ao mesmo tempo que a limitação de 140 caracteres não permite aprofundar os temas tratados, obriga a saudável objetividade. E a limitação é compensada por vários serviços desenvolvidos em apoio ao Twitter, que permitem postar imagens, videos e outros anexos, inclusive o encurtamento de links.
Além dessa limitação de espaço, a diversidade de usuários faz com que um mesmo assunto seja tratado com seriedade ou de forma satírica, sendo que o humor é uma das marcas do serviço. Logo, não é o lugar mais indicado para se aprender corretamente sobre algum assunto sério. Apesar disso, a sua popularidade permite que se extraia uma amostra bem representativa do pensamento de seus usuários. E como os brasileiros são um dos principais usuários do serviço, atrás apenas dos americanos, uma busca temática basta para se ter uma idéia do que o brasileiro pensa sobre um tema de interesse.
Neste trabalho, pincei o que foi dito num único dia (01 de julho de 2010) sobre o assunto livre-arbítrio, compilando os 39 tweets (excluídos os retweets) em que a palavra ocorreu. É claro que a amostra não é representativa, mas rigor científico não é o objetivo deste trabalho. Contudo, é possível ter uma boa noção do que o brasileiro diz sobre livre-arbítrio em 140, ou menos, caracteres.
Reflexões sobre livre-arbítrio
Parece que pouca gente tem dúvidas sobre livre-arbítrio. Poucos, como @maybe_dreams perguntam “e essa parada de livre-arbítrio?”. Apesar da pergunta, não parece ter havido muita reflexão, sendo que apenas @pastormarcio perguntou seriamente “como é possivel termos livre arbitrio, escolha, se a ultima palavra é de Deus?”. Não obstante, parece que basta alguém levantar um questionamento para que o interesse pelo tema desperte, a julgar pelo número de pessoas que retuitaram o pastor.
Além desse, houve alguns insigts, digamos, filosóficos sobre o tema. Por exemplo, @JessyRibeiroo escreveu que “A vida é como um jogo de cartas. A mão que as distribuem representa determinismo. A forma como você joga é o livre arbítrio”. Outra pessoa, @gabialvess reflete “E se eu mudasse meu destino num passe de mágica? Estranho, mas é como se houvesse por tras do livre-arbitrio um roteiro, pré-determinado”. E com o pensamento de @ambreusology de que “quase ninguém possui livre arbítrio. A partir do momento que você está preso em algo, você não é livre. Todos são presos a algo” encerra-se esta seção, pois não se vai além disso.
O que é livre-arbítrio
Que o conceito popular de livre-arbítrio é algo impensado fica claro nas diversas definições e inferências que se pode fazer das declarações. Quase sempre livre-arbítrio significa algum tipo de liberdade, como diz @ambreusology, “liberdade é ter livre arbítrio”. E logo esclarece de que tipo de liberdade está falando: “liberdade sexual existe a partir do momento que você pode escolher o sexo que faz”.
Assim, alguns usuários tem uma idéia de livre-arbítrio como sendo uma licença para se fazer o que bem entender. Para @schimitfacts “fazer o que quiser da vida se chama livre arbítrio” no que é acompanhado de perto por @CristinaMatos1 que diz “livre arbitrio é voce fazer o que e como quer e depois arcar com as consequencias”. Acreditando nisso, @EvertonMelo afirma “por isso que eu nem pergunto se pode... eu chego e faço. Lembre-se do livre arbítrio” e encontra eco em @malushinoda “eu também fui dotada de livre arbítrio. E tipo, se eu não to afim, eu não faço. Oras bolas”.
Para outros, o livre-arbítrio tem a ver com liberdade de pensamento e expressão. Neste sentido, @Camilla_Abreu_ entende que “cada cabeça uma sentença e enfim temos o livre arbítrio para isso!”. Já @jucarnaghi se ofende com os que não respeitam seu livre-arbítro de torcer contra o Brasil “gente revolts porque eu vou torcer pra Holanda. Livre arbítrio, oi?!” Com certeza teria o apoio de @CacauRodrigues_ que aconselha “fuja de tudo que limite o seu livre arbítrio, tudo que possa castrar a sua alma!”. Destoa deles @_SeanPreston que sentencia: “Idiotas não são nada mais do que pessoas que ainda não aprenderam que livre-arbítrio não é sinônimo para "vá em frente!".
É interessante ver como o livre-arbítrio é visto como um direito do indivíduo. De acordo com @psiricobatera, “todo mundo tem seu livre arbítrio. Se quizer continuar siga em frente. Direitos são direitos”, assim as pessoas “tem o direito do que quiserem. Temos total livre arbítrio”, acredita @Gemaria_SeR. Para @mawguedes “livre arbítrio!!! Direito de ir e vir!!!”. Usando desse direito, @dinhops diz “eu fumo porque eu quero. A vida é minha faço dela o que bem entender. Até porque foi seu Deus que nos deu o Livre Arbitrio não?”, apesar de @rcenteio achar que "o mal do fumante é abusar do livre arbítrio".
Alguns tem uma visão mais singela do livre-arbítrio, já que, conforme pensa @sweettpitt, “unfollow é sinônimo de livre arbítrio”, o que é praticado à risca por @lili_star_girl “no twitter a gente usa o livre arbítrio - encheu o saco - unfollow!”. Basta dizer, como @vibaranda “não gosto de vocês — Livre arbítrio existe para isso mesmo” e clicar no botão unfollow.
Livre-arbítrio, bom ou ruim?
Do exposto acima, fica claro que em tese o livre-arbítrio conta com a aprovação da maioria dos twitters. Mas em termos práticos? Como os usuários avaliam o livre-arbítrio a partir de suas experiências e observações? Parece-me que o livre-arbítrio é um bom projeto mal executado. Ou, pelos menos, as pessoas não estão lá satisfeitas com seu livre-arbítrio, ou o de outros.
Num crescente de insatisfação temos @marliandrade reconhecendo “a vida é feita de escolhas. Não sabemos usar o livre arbitrio”, @Kozlowaski dizendo “tenho de estudar! mas cadê que meu livre arbítrio deixa!”, @dauanaferreira reclamando que “o livre-arbítrio deveria nos permitir escolher quem amar”, quase em coro com @marybraga “a gente poderia ter o livre arbítrio de escolher quem agente quer que seja a nossa família”, passando por @thiagobico “às vezes eu acho que o livre arbítrio é péssimo!”, culminando no desabafo de @laynaranogueira “meu livre-arbítrio só me f***!”.
Conclusão
Das declarações sobre livre-arbítrio podemos tirar algumas conclusões. Uma delas é que embora muitos defendam livre-arbítrio, pouco realmente param para pensar no que ele significa. Mas isso não é uma caractrísticas apenas dos tuiteiros de plantão. Peça a definição de livre-arbítrio para arminianos e uma chuva de palavras como liberdade, escolha, vontade, responsabilidade, etc cai sobre sua cabeça. Outro ponto é praticamente ninguém referiu-se ao livre-arbítrio como algo que capacita para o bem. Quase sempre é algo relacionado a fazer algo contrário ao que é certo ou ao bom senso. Parece que para não pecar ou para promover o bem o livre-arbítrio não é invocado. Finalmente, os resultados do livre-arbítrio não parece entusiasmar a maioria dos que o utilizaram ou foram “vítimas” dele.
De maneira geral, as conclusões apóiam o fato bíblico de que o homem, entregue à sua natureza, é incapaz de fazer o bem e agradar a Deus. E que o homem só é verdadeiramente livre quando é libertado pela verdade do evangelho, ou seja, quando o Espírito Santo renova a sua natureza. Até lá, permanece o que @geanenunes diz: “o livre-arbítrio simplesmente não existe…”.
Soli Deo Gloria
Este é um assunto sempre debatido. E deve ser mesmo. É difícil para o homem natural aceitar convictamtente a soberania do Eterno. Vale apenas lembrar que até alguns filósofos, como por exemplo Schopenhauer, questionaram esta suposta liberdade de escolha do ser humano.
ResponderExcluirÓtimo texto,realmente o Twitter é uma fonte fascinante de informação.Eu também tenho observado o comportamento do twitteiros,e agora escrevo um blog.É um relato do que eu percebo entre os usuários,de um ponto de vista cristão.Basicamente,um trabalho de evangelização aplicada à realidade do Twitter,e que se expande pra "vida real" dos leitores.Obrigado por esse post,a paz de Cristo Ü
ResponderExcluirhttp://socialfromthestart.blogspot.com/
Gostei muito do texto, parabéns!
ResponderExcluirEu defendo que nós não temos o livre-arbítrio!
Os calvinistas, com base na bíblia, dizem que nós não temos o livre-arbítrio, pois o homem está morto em seus delitos e pecados e mortos não fazem escolhas... e se a humanidade tivesse o livre-arbítrio, a humanidade já estaria extinta!
Eu, como calvinista, concordo que nós não temos o livre-arbítrio.
MONERGISMO é uma palavra usada para referir-se a tese de que a salvação é um ato exclusivo da GRAÇA de Deus. Oposta ao sinergismo. Ao contrário do Sinergismo, que defende a tese de que a salvação é baseada no Livre Arbítrio do homem, o MONERGISMO afirma que o homem não possui "Livre Arbítrio" e que Deus elegeu uns desde antes da fundação do mundo para a salvação eterna e preteriu outros, que certamente não herdarão a vida eterna, assim o MONERGISMO sustenta o seguinte esquema:
1) Depravação Total do Gênero Humano; 2) Eleição Incondicional; 3) Expiação Limitada; 4) Graça Eficaz e irresistível e 5) Perseverança dos Santos. ESTE ESQUEMA É TAMBÉM CHAMADO DE: TULIP
Você pode ler mais em: www.monergismo.org
Voltaire,
ResponderExcluirEu procuro ver a liberdade humana (livre-arbítrio, se preferirem) sob os aspectos filosófico e teológico. Filosoficamente, livre-arbítrio implica "poder de escolha contrária" e frente ao conhecimento prévio, ele não existe. Por exemplo, se souber com certeza o que você vai comer no café da manhã de amanhã, então você não escolherá outra coisa, ou seja, você não tem o poder de escolha contrária. Filosoficamente falando, então, se Deus é onisciênte, então o homem não é livre no sentido de que pode escolher diferente do que Deus anteviu.
Teologicamente, livre-arbítrio tem a ver com a capacidade da pessoa escolher o bem espiritual, entendido como obedecer o que o evangelho ordena, sem a operação determinante da graça. Ou seja, livre-arbítrio significa que o homem está em neutralidade moral e que pode, livremente e por si mesmo, aceitar ou rejeitar o evangelho, com o mesmo poder. Ora, é claro frente ao testemunho bíblico, que o homem está morto e incapacitado espiritualmente, necessitando ser vivificado antes que possa fazer qualquer escolha aceitável a Deus. Então, neste sentido, o homem não tem livre-arbítrio.
Sendo assim, seja no âmbito da filosofia, seja no da teologia, o homem não tem livre-arbítrio.
Em Cristo,
Clóvis
Yuri,
ResponderExcluirVisitei seu blog, achei-o interessante, apesar de (ainda) poucos posts.
Obrigado por visitar e comentar o Cinco Solas.
Em Cristo,
Clóvis
Christopher,
ResponderExcluirObrigado por seus comentários. De fato, o que existe é uma ilusão de livre-arbítrio.
Mas não entendi sua frase: "e se a humanidade tivesse o livre-arbítrio, a humanidade já estaria extinta!"
Poderia desenvolver um pouco mais para nós?
Em Cristo,
Clóvis
Adorei esse tema postado por Clovis e os outros comentários dos que fornecem mais conteúdo de estudo aos leitores, parabéns a todos por debater assuntos que fazem com que, ou pelo menos alguns, reflitam.
ResponderExcluirPaz em Cristo
Ass:Eva.
Eva, você voltou!
ResponderExcluirComo está?
Neto respondeu, 16 de agosto de 2010 16:32
ResponderExcluirEva, você voltou!
Como está?
Voltei sim, nunca sumi!!Só nao tenho o que falar como vcs.
Eu estou ótima, muito obrigada, e vc? Mas ainda em busca das minhas respostas, tem que ter uma, não acha? Um pouco em conflito espiritual, mas bem com a graça de Deus! E lendo, lendo, lendo...tudo isso que Clovis e vc escreve, até mesmo no twitter, quando ele coloca o teu nome lá eu venho xeretar, kkkkk. Legal não é?
Ele tuita bastante! Impressionante! Mas adoro pq quando o texto me interessa entro nesse site monitorado por Clovis e venho ler tudo que posso. Bacana ver vc aqui e ler os textos, bom falar com vc Francisco, ops! Desculpa Neto! Sei lá!
Vcs são o máximo!!
Ass: a desordenada em textos Sra. Eva
Interessante que certos irmãos usam a desculpa de terem livre-arbítrio para a sua negligência pra com os deveres de mordomia cristã. Conheço uns que são relapsos na obra de Deus e, quando questionados sobre o porquê disso, na maior desfaçatez, alegam que o Senhor lhes deu "livre-arbítrio" para tal. De fato, independentemente de sermos calvinistas ou arminianos, não deveria haver quaisquer dúvidas de que o crente, estando na condição de servo de Deus, deve-Lhe irrestrita obediência -- inclusive, é claro, aos Seus mandamentos sobre os deveres no serviço do Rei.
ResponderExcluirEstá certo. Mas também há um fundo de verdade quando se diz que a crença na determinação divina pode levar alguns crentes a inércia.
ResponderExcluirAcho que é como você disse mesmo: independente de crer na predestinação ou aceitar o livre-arbítrio o cristão deve ser operoso na obra de Deus e zeloso nos seus deveres devocionais.
Em Cristo,
Clóvis