Os reformadores e a predestinação

 
Todos os reformadores do século dezesseis defenderam a mais estrita doutrina da predestinação. Esta afirmação é verdadeira mesmo quanto a Melanchton, em seu período inicial.

Lutero aceitava a doutrina da predestinação, se bem que a convicção de que Deus queria que todos os homens fossem salvos o levou a enfraquecer um tanto a doutrina da predestinação nos últimos tempos da sua existência. Ela foi desaparecendo gradativamente da teologia luterana, que agora a considera, total ou parcialmente (reprovação), como condicional. Calvino sustentou firmemente a doutrina agostiniana da predestinação dupla e absoluta. Ao mesmo tempo, em sua defesa da doutrina contra Pighius, deu ênfase ao fato de que o decreto concernente à entrada do pecado do mundo foi um decreto permissivo, e que o decreto de reprovação deve ter sido elaborado de maneira que Deus não fosse o autor do pecado, nem responsável por este, de modo nenhum.

As confissões reformadas (calvinistas) são notavelmente coesas na incorporação desta doutrina, conquanto não a apresentem todas com igual plenitude e precisão. Em conseqüência da investida arminiana contra a doutrina, os Cânones de Dort contem uma minuciosa exposição dela. Nas igrejas do tipo arminiano, a doutrina da predestinação foi suplantada pela doutrina da predestinação condicional.

Louis Berkhof
In: Teologia Sistemática

Reformers and predestination

All of the sixteenth century reformers argued for strict doctrine of predestination. This is true even as Melanchthon, in his early period.

Luther accepted the doctrine of predestination, although the conviction that God wanted all men to be saved led to somewhat weaken the doctrine of predestination in recent years of its existence. She was gradually disappearing from the Lutheran theology, believes that now the totally or partially (disapproval) as conditional. Calvin held firmly the Augustinian doctrine of double predestination and absolute. Meanwhile, in his defense of the doctrine against Pighius, gave emphasis to the fact that the decree concerning the entrance of sin into the world was a permissive decree, and that the decree of reprobation must have been designed so that God was not the author of sin, nor responsible for this in any way.

Confessions Reformed (Calvinists) are remarkably cohesive in the incorporation of this doctrine, while not present it all with the same fullness and precision. As a result of the onslaught against the Arminian doctrine, the Canons of Dort contains a thorough exposition of it. In the churches of the Arminian type, the doctrine of predestination was supplanted by the doctrine of predestination parole.

 
 
 

10 comentários:

  1. "Ao mesmo tempo, em sua defesa da doutrina contra Pighius, deu ênfase ao fato de que o decreto concernente à entrada do pecado do mundo foi um decreto permissivo, e que o decreto de reprovação deve ter sido elaborado de maneira que Deus não fosse o autor do pecado, nem responsável por este, de modo nenhum".

    É importante ressaltar isso. A concepção de Deus como tirano que faz pecar os réprobos, em vez de entregá-los à dureza do seu próprio coração, não encontrava abrigo no pensamento reformado.

    Mas hoje em dia é comum as pessoas pensarem em dupla predestinação exatamente dessa maneira.

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  2. Exatamente. Creio que Berkhof foi preciso em sua afirmação.

    Clóvis

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  3. "Todos os reformadores do século dezesseis defenderam a mais estrita doutrina da predestinação. Esta afirmação é verdadeira mesmo quanto a Melanchton, em seu período inicial."

    Infelizmente, no entanto, essa afirmação não é verdadeira. Além de Philiph Melanchton em seu período final, Martinho Bucer, Jerome Zanchius, Wolfgang Musculus, Erasmus Sarcerius e Jacobus Kimedoncius estão entre os reformadores que defenderam explícita ou implicitamente a predestinação conndicional.

    Saudações,

    Rodrigo

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  4. Rodrigo, Armínio tb era reformador?

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  5. Rodrigo,

    Sem por sua afirmação em dúvida nem querer defender o Berkhof: qual é a sua fonte? Não li nada de Musculus ou Sarcerius, mas o que li de Bucer e Zanchius não me sinalizou que cressem na eleição condicional, pelo contrário.

    Mas é claro que posso ter lido muito pouco, então se puder dar a indicação tento me informar melhor.

    Clóvis

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  6. Luciano,

    O "marco zero" da Reforma é 1517. Acho que há unanimidade nisso. O problema mesmo é demarcar o fim. Segundo a wikipedia, a Reforma termina em 1648, com a assinatura da Paz de Vestfália:

    http://en.wikipedia.org/wiki/Protestant_Reformation

    Um outro site coloca como "reformadores" teólogos que morreram no início do século XVII:

    http://calvinandcalvinism.com/?page_id=1687

    Nesse caso, portanto, tendo em vista que Armínio morre em 1609, ele pode ser considerado sim um reformador. Mas acho que a questão deve ser melhor investigada.


    Clóvis,

    As informações que tenho foram retiradas do mesmo site que citei acima na resposta ao Luciano:

    * http://calvinandcalvinism.com/?p=1553, sobre Bucer
    * http://calvinandcalvinism.com/?p=4554, sobre Zanchius
    * http://calvinandcalvinism.com/?p=1559, sobre Musculus
    * http://calvinandcalvinism.com/?p=2559, sobre Sarcerius

    Acerca das leituras, acho que o grande problema é que as editoras evangélicas brasileiras não investem na tradução e publicação de obras dos reformadores. As únicas exceções são mesmo Lutero e Calvino.

    Abraços,

    Rodrigo

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  7. ricardo gondim escreveu em seu site o seguinte texto

    Aqui começam os problemas. Se Deus traçou todos os mínimos detalhes da história e tem tudo sob seu mais rígido mando, não só os esboços gerais dos acontecimentos, mas os detalhes estão “pré-ordenados”. Quando um maníaco estupra e mata seis adolescentes, o homicídio não foi só previsto, mas arquitetado pelo Divino. E como poder absoluto não pode admitir detalhes fora do seu governo, as sórdidas minúcias do crime, bem como a macabra execução, teriam que ser não só antecipados, como minimamente determinados por Deus. Criminosos, genocidas, torturadores não passariam de executores finais de uma vontade escondida. Se "soberania" não permite ações dentro de parâmetros largos, então "soberania" especifica cada atitude e micro-gerencia os pormenores das escolhas de Madre Teresa, Pinochet, Gandhi e Idi Amin. A história se resume ao mero desenrolar de uma "vontade ativa" ou "permissiva" de Deus.

    Teólogos fundamentalistas escrevem coisas estranhas (não se espante nem ria): “A vontade de Deus era que o criminoso agisse, mas que o fizesse com liberdade”. Vem embutida nesta afirmação um conceito muito caro para o calvinismo: “É possível ser livre e controlado ao mesmo tempo”. Sabe-se lá o que isso significa. Já fui contestado com argumentos do tipo: “A vontade de Deus é que o maligno se sinta livre para praticar a sua malignidade, mas que escolha debaixo da rigorosa vontade de Deus”. A incoerência interna do argumento é tão absurda que não merece ser levada a sério. Entretanto, ela é repetida e comentada como “ortodoxa” em colóquios teológicos. Insisto na pergunta: Como uma pessoa pode agir com liberdade se foi programada e determinada, sem opção de transgredir?

    Será que o poder de Deus é sua capacidade de fazer com que os humanos se comportem exatamente como ele quer, enquanto acreditam que são livres? Se esse for o caso, a humanidade vive sob o império do logro. A humanidade é pior do que os golfinhos que se imaginam livres quando fazem estripulias dentro dos aquários e mal percebem que só cumprem os acenos do adestrador. Sim, seríamos piores que os golfinhos. Eles não são dotados de uma racionalidade consciente como os humanos.
    pergunto, oque os calvinistas acham desse texto ?

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    1. Uma coisa é predestinação para a salvação e outra é predestinação para os detalhes da vida, onde tudo o que o homem plantar, ele colherá!

      http://cristoviveni.org.br/adm/1/file/02%20Predestina%C3%A7%C3%A3o%20e%20Elei%C3%A7%C3%A3o.pdf

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  8. Diante do que Ricardo Gondim pensa sobre tal ponto de vista, digamos que sua posição não seja passiva de discussão. Ele Releu a Bíblia radicalmente num ponto de vista extremamente liberal, em tudo, e não somente no assunto em apreço(antes fosse só isso). Inclusive, ele é um pluralista religioso, posto que crê na salvação por outros meios além de Jesus Cristo.

    Graça e Paz
    Mizael Reis

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  9. Acho que o Ricardo Gondim usou de colocações ou inocentes ou fora de contexto de alguns calvinistas, para debochar desta forma. Falar que "A vontade de Deus é que o maligno se sinta livre para praticar a sua malignidade, mas que escolha debaixo da rigorosa vontade de Deus" até está de acordo com a doutrina calvinista, mas precisa de muito mais esclarecimento. Eu mesmo, antes de ser calvinista, se fosse apresentado a esta afirmação isoladamente, diria que os calvinistas são loucos ou ignorantes. Graças a Deus que todo o quadro me foi apresentado ao mesmo tempo.
    Os calvinistas, julgo, são os que mais tentaram esclarecer a soberania de Deus, e justamente por isso, chegaram à conclusão de que não é humanamente possível compreendê-la, tampouco é prudente negá-la. A teoria do livre-arbítrio não a explica, nem possui base na Bíblia.
    Resumir tudo o que os calvinistas afirmam sobre a soberania de Deus numa frase que, sozinha, soa estranha, lembra muito o que veremos logo, logo: políticos utilizando frases soltas de seus adversários para atacá-los injustamente. Alguém sabe se o Gondim pretende se candidatar?

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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