Eleição eterna e gratuita


O apóstolo declara que a eleição eterna é o fundamento e causa primeira, tanto de nosso chamamento como de todos os benefícios que de Deus recebemos. Se porventura nos for pedido a razão por que Deus nos chamou a participar do evangelho, por que diariamente nos concede bênçãos em grande profusão, por que nos abre os portões celestiais, teremos sempre que retroceder a este princípio, a saber: que Deus nos elegeu antes que o mundo viesse à existência. O próprio tempo da eleição revela que ela é gratuita; pois, o que poderíamos merecer, ou em que consistiria nosso mérito, antes que o mundo fosse criado? Ora, quão pueril é a tentativa de satisfazer este argumento com o seguinte sofismo: “que fomos eleitos porque já éramos dignos, e porque Deus previra que seríamos dignos.”

Todos nós estávamos perdidos em Adão; portanto, Deus não poderia ter-nos salvado por sua própria eleição, nos resgatando de perecer, se nada havia para ser previsto. O mesmo argumento é usado em Romanos, onde, ao falar de Jacó e Esaú, diz ele: “E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal” [Rm 9.11]. Mas, embora eles ainda não tivessem agido, algum sofista da Sorbonne poderia replicar que “Deus previra o que eles agiriam”. Esta objeção não possui força alguma à luz da natureza corrupta do homem, em quem nada pode ser visto senão materiais para a destruição.

João Calvino
In: Comentário de Efésios, 1:4

4 comentários:

  1. graça e paz!
    Parabéns por postar um texto do nosso amado irmão Calvino. Houve um tempo em minha vida que
    simplesmente odiava a doutrina da predestinação.
    Depois de estudá-la e ler Agostinho, Lutero e Calvino, me convenci de que ainda que muitos se
    escandalizem. A eleição dos santos é incontestável à luz das Escrituras.

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  2. Acho este texto de Calvino um clássico!

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  3. Prometeu,

    Obrigado por aparecer e comentar.

    De fato, a desinformação é a maior inimiga do calvinismo.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  4. Heitor,

    De fato é uma síntese perfeita da doutrina.

    Em Cristo,

    Clóvis

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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