Os Puritanos: Trabalho e Sucesso


O Puritanismo e o calvinismo mais comumente consideravam o trabalho como o meio pelo qual as pessoas conquistam seu próprio sucesso e riqueza? É normalmente afirmado que sim, mas procuro em vão pela substanciação da afirmativa. O calvinismo não ensina uma ética de autoconfiança, como ensina nossa ética moderna do trabalho. É, ao contrário, uma ética da graça: quaisquer recompensas tangíveis advindas do trabalho, são o dom da graça de Deus.

Calvino mesmo havia negado que o sucesso material é sempre o resultado do trabalho. Era Benjamin Franklin, e não os primeiros protestantes, que tinha a confiança que "cedo dormir e cedo levantar tornam um homem saudável, abastado e sábio". Na visão calvinista, apenas trabalho não garante sucesso; mesmo quando Deus abençoa o trabalho com prosperidade, é sua graça e não mérito humano que produz a bênção. Nas palavras de Calvino: "Os homens em vão desgastam-se com labuta, e desperdiçam a si mesmos para adquirir riquezas, visto que estas também são um benefício somente através de Deus". E novamente: "Longe de nós pensar que temos qualquer direito à vã confiança.

Conseqüentemente, sempre que encontrarmos a palavra 'recompensa', ou ela passar por nossa mente, compreendamos que é a extrema grandeza da bondade divina em relação a nós".

O mesmo espírito permeia o pensamento Puritano na relação entre o esforço humano e a bênção divina. Cotton Mather afirmou: "Em nossas ocupações estendemos nossas redes; mas é Deus quem põe nas nossas redes tudo que vem nelas". Robert Crowley disse a uma audiência em London Guildhall que nem a cobiça nem o trabalho árduo poderiam torná-los ricos, visto que só Deus abençoa as pessoas com o sucesso. De acordo com George Swinnock, o homem de negócios bem-sucedido nunca pode dizer que seus próprios esforços foram responsáveis pelo seu sucesso; muito embora os humanos façam a sua parte ativa, "não há a menor roda na engrenagem da natureza que não dependa de Deus para seu movimento a cada instante".

"Os Puritanos nunca conceberam o trabalho à parte do contexto espiritual e moral do serviço a Deus e ao homem."

É verdade que o estilo de vida Puritano, uma mistura de diligência e frugalidade, tendia a fazer as pessoas relativamente prósperas, ao menos parte do tempo. A coisa importante, porém, é como os Puritanos viam sua riqueza. A atitude Puritana era de que riqueza era um bem social, não uma propriedade pessoal — um dom de Deus, não o resultado de esforço humano somente ou um sinal da aprovação de Deus. A maciça pesquisa de fontes primárias de Richard L. Greaves revela que os Puritanos afirmavam que "nenhuma correlação direta existe entre riqueza e santidade... Não riquezas, mas fé e sofrimento por causa do evangelho são sinais de eleição".

Os Puritanos nunca conceberam o trabalho à parte do contexto espiritual e moral do serviço a Deus e ao homem. A mensagem muito citada de Richard M. Nixon, no Dia do Trabalho (1971), provavelmente resumiu a concepção popular da "ética Puritana do trabalho", mas se podemos dizer, é um quadro impreciso:

"A "ética do trabalho" sustenta que o trabalho é bom em si; que um homem ou mulher tornam-se uma pessoa melhor em virtude do ato de trabalhar. O espírito competitivo americano, a "ética do trabalho" deste povo,... o valor da realização, a moralidade da autoconfiança — nenhum destes sai de moda."

Acredito ter mostrado que os Puritanos não estariam contentes com tal teoria do trabalho. Seus ideais eram obediência a Deus, serviço à humanidade e confiança na graça de Deus. Na ética Puritana, a virtude do trabalho dependia quase completamente dos motivos com que as pessoas o realizavam.

Fonte: Santos No Mundo - Leland Ryken - Editora Fiel.


A propósito do tema, recomendo a leitura de Lutero e a vocação do crente, no blog Isaias Lobão.

2 comentários:

  1. Paz, Clóvis.

    Oxalá "nossos pastores empreendedores e executivos" encarassem o sucesso material como graça divina e não como "obrigação divina se você fizer tudo certinho".

    No Amor e na Verdade que nos une,
    Vini
    http://7vini.blogspot.com/

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  2. Site do conteúdo programático do curso técnico de informática:
    http://www.inform4tica.com/index.php?function=inftecconteudo

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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