Justificação pela fé

"Sendo justificados gratuitamente, por sua graça" Rm 3:24

Definição

Minha definição pessoal, que expressa meu entendimento da doutrina da justificação pela fé, é a seguinte:

"Justificação é o ato pelo qual Deus como juiz declara o crente justo diante dEle para sempre"


Tendo definido justificação, vamos analisar os aspectos particulares dessa definição. Para fundamentar as proposições que farei, recorrerei à Carta aos Romanos, obra na qual Paulo apresenta, desenvolve e explica a doutrina da justificação.

1. Justificação é um ato

Sendo um ato, a justificação jamais é apresentada como um processo ou como uma ação continuada de Deus. Abraão foi justificado (4:2), os crentes estão justificados (5:1) e Deus justificará os que vierem a crer (3:30), mas jamais vemos pessoas sendo gradualmente justificadas. A justificação é um ato de Deus, significando que o homem não participa ativamente do mesmo. A Bíblia diz que "é Deus quem os justifica" (8:33) e quanto ao homem é dito "que não trabalha" (4:5) ao ser justificado. A justificação é um ato de Deus como juiz. É a "manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e o justificador" (3:26).

2. Justificação é uma declaração

A justificação não consiste em Deus infundir justiça ou operar no interior do crente para torná-lo justo. A justificação não é algo que Deus opera no crente, e sim algo que Ele declara acerca do crente. Um juiz não torna uma pessoa inocente antes de absolvê-lo, nem transforma alguém em culpado antes de condená-lo. Ele simplesmente declara a pessoa inocente ou culpada. A justificação consiste em Deus reconhecer no crente a justiça de Cristo e assim declará-lo sem culpa diante dEle. Assim, a Escritura diz que Deus "justifica o ímpio" (4:5) e que é "bem-aventurado o homem a quem Deus atribui justiça, independentemente de obras" (4:6).

3. Justificação é pela fé

A Escritura nega qualquer possibilidade do homem ser considerado justo diante de Deus por algo que venha fazer, "visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei" (3:20). Se alguém for "justificado por obras, tem de que se gloriar, porém não diante de Deus" (4:2). A justificação é "mediante a fé em Jesus Cristo" (3:22). Porém, não devemos pensar que a fé é a causa da justificação e menos ainda que a justificação é uma recompensa divina pela fé do homem. A causa da justificação é a graça (3:24) sendo a fé o meio instrumental pelo qual Deus atribui justiça ao homem (3:22; 3:25; 5:1; 9:30; 10:6).

4. Justificação é diante de Deus

Sendo a justificação objetiva e não subjetiva, ela não significa que a pessoa se torna incapaz de pecar. Nas palavras de Lutero, somos simul et semper iustus et peccator coram Deo. Ou seja, mesmo continuando pecadores, seremos justos diante de Deus. Além de dizer "ninguém será justificado diante dele por obras" (3:20) Paulo diz também "quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica" (Rm 8:33).

5. Justificação é para sempre

A justificação é um único ato, cujo resultado invade a eternidade. A graça da justificação não pode ser perdida, nem enfraquecida ou anulada. A certeza da escritura é que "agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus" (8:1). Agora, no grego, significa "neste tempo, no presente". Portanto, no presente não há nenhuma sentença condenatória contra os crentes em Cristo. No verso 30, os justificados são os mesmos que foram chamados e que serão glorificados. No verso 33, há a pergunta "quem intentará acusação contra os eleitos de Deus?" e a resposta "é Deus quem os justifica" seguida de outra pergunta retórica "quem os condenará?" (8:34). Para os que objetam que a justificação é apenas enquanto estão em Cristo Jesus, a Bíblia diz que nada "poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor" (8:39)

Resta-nos louvar a Deus pela Sua graça em nos declarar justos diante dEle mediante a fé em Seu Filho!

2 comentários:

  1. Caro Clovis, eu estava preparando uma lição sobre o tema, e resolvi ver o que outros andam escrevendo. Li o seu texto e disse a mim mesmo, "Estou satisfeito" - Peço licença para passar a outros quatro irmãos do meu grupo, para que reflitam sobre o mesmo.

    se for possível, agradeço.

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  2. Luiz,

    Fique à vontade para utilizar o texto, apenas dê a glória a Deus.

    Deus te abençoe.

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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