O Juízo Final

Finalmente, cremos conforme a palavra de Deus que, quando chegar o momento determinado pelo Senhor [1] - o qual todas as criaturas desconhecem -, e o número dos eleitos estiver completo [2], nosso Senhor Jesus Cristo virá do céu, corporal e visivelmente [3], assim como subiu ao céu (Atos 1:11), com grande glória e majestade [4]. Ele se manifestará Juiz sobre vivos e mortos [5], enquanto porá em fogo e chamas este velho mundo para purificá-lo [6].

Naquele momento comparecerão perante este grande Juiz, pessoalmente, todas as pessoas que viveram neste mundo [7]: homens, mulheres e crianças, citados pela voz do arcanjo e pelo som da trombeta divina (1Tessalonicenses 4:16). Porque todos os mortos ressuscitarão da terra [8] e as almas serão reunidas aos seus próprios corpos em que viveram. E a respeito daqueles que ainda estiverem vivos: eles não morrerão como os outros, mas serão transformados num só momento. De corruptíveis se tornarão incorruptíveis [9].

Então, se abrirão os livros e os mortos serão julgados (Apocalipse 20:12), segundo o que tiverem feito neste mundo, seja o bem ou o mal [10] (2Coríntios 5:10). Sim, "de toda palavra frívola que proferirem os homens, dela darão conta" (Mateus 12:36), mesmo que o mundo a considere apenas brincadeira e passatempo. Assim será trazido à luz diante de todos o que os homens praticaram às escondidas, inclusive sua hipocrisia.

Portanto, pensar neste juízo e realmente horrível e pavoroso para os homens maus e ímpios [11], mas muito desejável e consolador para os justos e eleitos. A salvação destes será totalmente completada e eles receberão os frutos de seu penoso labor [12]. Sua inocência será reconhecida por todos e eles presenciarão a vingança terrível de Deus contra os ímpios, que os tiranizaram, oprimiram e atormentaram neste mundo [13]. Os ímpios serão levados a reconhecer sua culpa pelo testemunho da própria consciência. Eles se tornarão imortais, mas somente para serem atormentados no "fogo eterno [14], preparado para o diabo e seus anjos " [15] (Mateus 25:41).

Os crentes e eleitos, porém, serão coroados com glória e honra. O Filho de Deus confessará seus nomes diante de Deus, seu Pai (Mateus 10:32), e seus anjos eleitos [16] e Deus "lhes enxugará dos olhos toda lagrima" [17] (Apocalipse 21:4). Assim ficará manifesto que a causa deles, que agora por muitos juízes e autoridades está sendo condenada como herética e ímpia, é a causa do Filho de Deus. E, como recompensa gratuita, o Senhor os fará possuir a glória que jamais poderia surgir no coração de um homem [18].

Por isso, esperamos este grande dia com grande anseio para usufruirmos plenamente das promessas de Deus em Jesus Cristo, nosso Senhor.

1 Mt 24:36; Mt 25:13; 1Ts 5:1,2. 2 Hb 11. 39,40; Ap 6:11. 3 Ap 1:7. 4 Mt 24:30; Mt 25: 31. 5 Mt 25:31-46; 2Tm 4:1; 1Pe 4:5. 6 2Pe 3:10-13. 7 Dt 7:9-11; Ap 20:12,13. 8 Dn 12: 2; Jo 5:28,29. 9 1Co 15:51,52; Fp 3:20,21. 10 Hb 9:27; Ap 22:12. 11 Mt 11:22; Mt 23: 33; Rm 2:5,6; Hb 10:27; 2Pe 2:9; Jd :15; Ap 14:7a. 12 Lc 14:14; 2Ts 1:3-10; 1Jo 4:17. 13 Ap 15:4; Ap 18:20. 14 Mt 13:41,42; Mc 9:48; Lc 16:23-28; Ap 21:8. 15 Ap 20:10. 16 Ap 3:5. 17 Is 25:8; Ap 7:17. 18 Dn 12: 3; Mt 5:12; Mt 13:43; 1Co 2:9; Ap 21:9-22:5.

Confissão de Fé Belga
Artigo 37

Ofendidos pelo evangelho

Desde então muitos dos seus discípulos tornaram para trás, e já não andavam com ele. (João 6:66)
Geralmente os pregadores costumam julgar o resultado de sua pregação pelo contentamento nos rostos dos irmãos e elogio dos visitantes após sua ministração. A aprovação dos ouvintes é sinal que tudo foi bem. Certo? Errado. A Bíblia nos mostra o contrário.

O Maior dos pregadores, Jesus, experimentou o dissabor de ser abandonado por muitos de seus seguidores após ter proferido duras palavras em Cafarnaum, a tal ponto de escandalizar seus discípulos mais próximos que diziam: “Duro é este discurso; quem o pode ouvir?” (Jo 6:60). A adesão e aprovação inicial do povo ao ministério do Senhor Jesus transformou-se em rejeição e abandono após um único sermão. Muitos o abandonaram e o curioso é que apesar da reação negativa do público, Jesus não mudou o tema dos sermões subsequentes para atrair de volta aos ofendidos.

A ofensa da Palavra de Deus foi o motivo por que muitos dos profetas bíblicos foram perseguidos e mortos (At 7:52).  Homens que não se importaram em falar daquilo que o povo queria ouvir, mas, fielmente proclamaram uma mensagem dura e confrontante. O diácono Estevão, por exemplo, enfrentou a fúria de judeus que se opuseram veementemente à sua pregação. Eles taparam os ouvidos por não suportarem a verdade do Evangelho e como resultado Estevão foi martirizado (At 7:54-58). Os arautos de Deus não receberam aplausos, mas, em maior das vezes, resignação, oposição e perseguição. Mesmo assim podemos afirmar que o ministério deles foi frutuoso, pois gerou insatisfação no coração dos ouvintes.

Fazer do agrado popular termômetro para medir resultado dos sermões não é um critério confiável, muitas vezes o satisfação geral revela apenas que a consciência do ouvinte em nada foi incomodada; John Preston, ministro puritano do século dezessete, ressaltou que “não há um sermão que, sendo ouvido, não nos ponha mais perto do céu ou do inferno”. Portanto, seja qual for o resultado da pregação ela irá gerar grande insatisfação nos receptores, seja com o Deus Justo e Bom, seja com sua própria natureza carnal. Ante a pregação o pecador será movido por grande desagrado, que salvará ou condenará sua alma eternamente.

É preciso entender que só através da santa ofensa da pregação os ofensores (Cl 1:21) poderão ter consciência do quanto tem ofendido o Deus Justo, Santo e Bom, e assim, terão oportunidade de se desviarem do caminho da perdição. Se as pessoas sentem-se ofendidas por sua pregação este é sinal que tudo está indo bem. Continue fiel às Escrituras.

Ericon Fábio
In: UMP da Quarta

O ofício das autoridades civis

Cremos que nosso bom Deus, por causa da per versidade do gênero humano, constituiu reis, governos e autoridades [1]. Ele quer que o mundo seja governado por leis e códigos [2], para que a indisciplina dos homens seja contida e tudo ocorra entre eles em boa ordem [3]. Para este fim Ele forneceu às autoridades a espada para castigar os maus e proteger os bons (Romanos 13:4).

Seu ofício não é apenas cuidar da ordem pública e zelar por ela, mas também proteger o santo ministério da igreja a fim de * promover o reino de Jesus Cristo e a pregação da Palavra do Evangelho em todo lugar [4], para que Deus seja honrado e servido por todos, como Ele ordena na sua Palavra.

Depois, cada um, em qualquer posição que esteja, tem a obrigação de submeter-se às autoridades, pagar impostos, render-lhes honra e respeito, obedecer-lhes [5] em tudo o que não contraria a Palavra de Deus [6], e orar em favor delas para que Deus as guie em todos os seus caminhos, "para que vivamos vida tranqüila e mansa com toda piedade e respeito" (lTimóteo 2:2).

Neste assunto rejeitamos os anabatistas e outros revolucionários e em geral todos os que se opõem às autoridades e aos magistrados, e querem derrubar a ordem judicial [7], introduzindo a comunhão de bens, e que abalam os bons costumes que Deus estabeleceu entre as pessoas.

1 Pv 8:15; Dn 2:21; Jo 19:11; Rm 13:1.2 Êx 18:20. 3 Dt 1:16; Dt 16:19; Jz 21:25; Sl 82; Jr 21:12; Jr 22:3; 1Pe 2:13,14. 4 Sl 2; Rm 13:4a; 1Tm 2:1-4. 5 Mt 17:27; Mt 22:21; Rm 13:7; Tt 3:1; 1Pe 2:17. 6 At 4:19; At 5:29. 7 2Pe 2:10; Jd :8.

* Originalmente o texto incluía aqui as se guintes palavras: "...impedir e exterminar toda idolatria e falso culto a Deus, destruir o reino do anticristo e ...".

Confissão de Fé Belga
Artigo 36

A Santa Ceia

Cremos e confessamos que nosso Salvador Jesus Cristo ordenou e instituiu o sacramento da santa ceia [1], a fim de alimentar e sustentar aqueles que Ele já fez nascer de novo e incorporou à sua família, que é a sua igreja.

Agora, aqueles que nasceram de novo têm duas vidas diferentes [2]. Uma é corporal e temporária: eles a trouxeram de seu primeiro nascimento e todos os homens a tem. A outra é espiritual e celestial: ela lhes é dada no segundo nascimentp que se realiza pela palavra do Evangelho [3], na comunhão com o corpo de Cristo. Esta vida apenas os eleitos de Deus possuem. Assim Deus ordenou para a manutenção da vida corporal e terrestre, pão comum, terrestre, que todos recebem como recebem a vida.

Porém, a fim de manter a vida espiritual e celestial, que os crentes possuem, Ele lhes enviou um "pão vivo, que desceu do céu" (João 6:51) , isto é, Jesus Cristo [4]. Ele alimenta e mantém a vida espiritual dos crentes [5] quando é comido, quer dizer: aceito espiritualmente e recebido pela fé [6].

A fim de nos figurar este pão espiritual e celestial, Cristo ordenou um pão terrestre e visível como sacramento de seu corpo e o vinho como sacramento de seu sangue [7]. Com eles nos assegura: tão certo como recebemos o sacramento e o temos em nossas mãos e o comemos e bebemos com nossa boca, para manter nossa vida, tão certo recebemos em nossa alma pela fé [8] - que é a mão e a boca da nossa alma -, o verdadeiro corpo e o verdadeiro sangue de Cristo, nosso único Salvador, para manter nossa vida espiritual.

Agora, há certeza absoluta de que Jesus Cristo não nos ordenou seus sacramentos a toa. Então, Ele realiza em nós tudo o que nos apresenta por estes santos sinais, embora de maneira além da nossa compreensão, como também a ação do Espírito Santo é oculta e incompreensível [9].

Entretanto, não nos enganamos, dizendo que, o que comemos e bebemos, é o próprio corpo natural e o próprio sangue de Cristo. Porém, a forma pela qual os tomamos não é pela boca, mas, espiritual, pela fé. Desta maneira, Jesus Cristo permanece sentado a direita de Deus, seu Pai, no céu [10] e, contudo, Ele se comunica a nós pela fé. Nesta ceia festiva e espiritual, Cristo nos faz participar de si mesmo com todas as suas riquezas e dons e deixa-nos usufruir tanto de si mesmo como dos méritos de seu sofrimento e morte [11]. Ele alimenta, fortalece e consola nossa pobre alma desolada pelo comer de seu corpo, e a reanima e renova pelo beber de seu sangue.

Depois, embora os sacramentos estejam unidos com a realidade da qual são um sinal, nem todos recebem ambos [12]. O ímpio recebe, sim, o sacramento, para sua condenação, mas não a verdade do sacramento, como Judas e Simão, o Mago: ambos receberam o sacramento, mas não a Cristo que por este é figurado [13]. Porque somente os crentes participam dEle [14].

Finalmente, recebemos na congregação do povo de Deus [15] este santo sacramento com humildade e reverência. Assim comemoramos juntos, com ações de graça, a morte de Cristo, nosso Salvador, e fazemos confissão da nossa fé e da religião cristã [16]. Por isto, ninguém deve participar da ceia antes de ter-se examinado a si mesmo, da maneira certa, para, enquanto comer e beber, não comer e beber juízo para si (lCoríntios 11:28,29). Em resumo, somos movidos, pelo uso deste santo sacramento, a um ardente amor para com Deus e nosso próximo.

Por esta razão rejeitamos como profanação dos sacramentos todos os acréscimos e abomináveis invenções que o homem introduziu neles e misturou com eles. E declaramos que se deve contentar com a ordenação que Cristo e seus apóstolos nos ensinaram e falar sobre os sacramentos conforme eles falaram.

1 Mt 26:26-28; Mc 14:22-24; Lc 22:19,20; 1Co 11:23-26. 2 Jo 3:5,6. 3 Jo 5:25. 4 Jo 6:48-51. 5 Jo 6:63; Jo 10:10b. 6 Jo 6:40,47. 7 Jo 6:55; 1Co 10:16. 8 Ef 3:17. 9 Jo 3:8. 10 Mc 16:19; At 3:21. 11 Rm 8:32; 1Co 10:3,4. 12 1Co 2:14. 13 Lc 22:21,22; At 8:13,21. 14 Jo 3:36. 15 At 2:42; At 20:7. 16 At 2:46; 1Co 11:26.

Confissão de Fé Belga
Artigo 35

A solução está no altar, não nas urnas

Porque, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe renderam graças, mas os seus pensamentos tornaram-se fúteis e os seus corações insensatos se obscureceram. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos e trocaram a glória do Deus imortal por imagens feitas segundo a semelhança do homem mortal, bem como de pássaros, quadrúpedes e répteis. Por isso Deus os entregou à impureza sexual, segundo os desejos pecaminosos dos seus corações, para a degradação dos seus corpos entre si. Trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram a coisas e seres criados, em lugar do Criador, que é bendito para sempre. Amém. Romanos 1:21-25
Nuvens negras ameaçam o horizonte do cristianismo no Brasil. E o atual cenário político não ajuda em nada para tornar o quadro menos ameaçador. Não é difícil identificar duas dessas nuvens: o secularismo e o paganismo. 

O primeiro é patrocinado e promovido pelo Estado, procura minar valores cristãos tradicionais, como a família e a sacralidade da vida, promovendo o homossexualismo, o aborto e a legalização das drogas. O segundo visa atacar a singularidade de Cristo e a exclusividade do evangelho, promovendo um sincretismo religioso em que qualquer forma de expressão religiosa é aceitável, menos a fé cristã. Em ambos os casos, qualquer manifestação cristã é rotulada de discurso de ódio e sujeito à intolerância dos tolerantes. Este é o quadro, conforme vejo. A questão é como a Igreja reage diante dele?

Uma parte da igreja é se fecha em si mesma, esperando que a vinda de Cristo e o arrebatamento interrompa essa onda secularizante e paganizante. É claro que não há nada de errado em anelar pela volta do Senhor, quando Ele enfim estabelecerá seu reino na terra. Isto se constitui na bem aventurada esperança da igreja. Porém, o motivo para ansiarmos pela volta do Senhor deve ser menos a pressão do mundo e mais o desejo de estar com Cristo. Não devemos orar “ora vem Senhor Jesus” por covardia, mas de saudade. Além disso, enquanto esperamos a volta iminente do Senhor, devemos ser sal da terra e luz do mundo, e o sal não cumpre sua função no saleiro e a luz não ilumina posta sob a cama. Portanto, se colocar num casulo esperando a metamorfose na vinda do Senhor não é a melhor opção.

Outra reação da igreja tem sido o engajamento político, numa tentativa de devolver os valores cristãos ao Brasil através da influência política. Daí os discursos renovados a cada período eleitoral, de que devemos eleger representantes dos cristãos (nem estou falando de representantes evangélicos ou da "nossa igreja"). Há um erro e um risco, aqui. O erro é pensar que o país será cristão através de leis justas (embora elas sejam boas e necessárias). A própria lei de Deus é incapaz de salvar, antes agrava o pecado latente no coração do homem. Quanto menos as leis humanas, falhas que são, irão mudar a disposição má do coração dos homens. Na melhor das hipóteses, servirá como instrumento da graça comum, para restringir a plena materialização da maldade dos homens, se houver punição para os transgressores, realidade que, convenhamos, não é a do nosso país.

Além disso, a tentativa da igreja de mudar a sociedade através da influência política, especialmente nas casas de leis, traz em si um grande risco. Num sistema democrático, tanto a eleição como a aprovação das leis se dá pelo voto da maioria. Isto significa que concessões precisarão ser feitas e a primeira delas será uma redefinição do evangelho, para torná-lo palatável à essa maioria. A cruz será facilmente removida e a ênfase recairá numa das versões "bem vistas" do evangelho, que aliás não é evangelho de forma alguma (sem cruz, sem evangelho). Conseguida a vitória por essa via, o resultado não será um país cristianizado, e sim uma cultura que será religiosa na sua manifestação, mas pagã na sua essência.

A única saída para a igreja brasileira é um avivamento. Por avivamento quero significar um verdadeiro quebrantamento diante de Deus, seguido da pregação genuína do verdadeiro evangelho e uma firme determinação de arcar com as consequências da decisão de obedecer a Deus antes que os homens. Não há outra alternativa, a igreja verdadeira sempre será uma contra-cultura a corroer a cultura dominante por dentro. Isso porque viverá e pregará o evangelho da glória de Deus, que é o único poder capaz de salvar o homem do estado de perdição e rebelião que se encontra.

Se a igreja experimentar um verdadeiro avivamento, quando leis ímpias forem promulgadas, os cristãos as desobedecerão. Se o odiado evangelho for oficialmente proscrito, ainda assim os cristãos o proclamarão. Se por isso forem colocados em prisões, a casa de César ouvirá seu testemunho e muitos ali se converterão. Pois o evangelho não é “um poder”, é “o poder”, não do povo nem do magistrado, mas de Deus.

A ameaça ao cristianismo é real e inevitável. Se enclausurar não resolve. Votar bem não bastará. A saída é se humilhar, orar e confessar nossos pecados diante de Deus e proclamar o evangelho da cruz. Fora isso, o cristianismo brasileiro será engolido pelo secularismo e pelo paganismo.

Soli Deo Gloria