A interpretação pessoal da Bíblia

Dois dos grandes legados que recebemos da Reforma foram o princípio da interpretação pessoal da Bíblia e a sua tradução a língua do povo. O próprio Lutero colocou em foco essas questões. Quando se apresentou diante da Dieta de Worms (um concílio no qual foi acusado de heresia por causa de seus ensinamentos), ele declarou:
"A menos que eu seja convencido pela Escritura, minha consciência continuará cativa da Palavra de Deus - não aceito a autoridade de papas e concílios, porque se têm contraditado. Não posso nem quero retratar-me, porque ir contra a consciência não é certo nem seguro. Que Deus me ajude. Amém."
A declaração de Lutero, e sua subseqüente tradução da Bíblia para sua língua vernácula (do próprio País), tiveram dois efeitos. Primeiro, tirou da Igreja Católica Romana o direito  exclusivo de interpretação. O povo não mais ficaria à mercê das doutrinas da igreja, tendo de aceitar as tradições ou ensinos eclesiásticos como tendo autoridade igual à da Palavra de deus. Segundo, colocou a interpretação nas mãos do povo. Essa mudança foi mais problemática. Levou aos mesmos excessos sobre os quais a Igreja Romana estava envolvida - interpretações subjetivas do texto que levam ao afastamento da fé cristã histórica.
 
O subjetivismo tem sido o grande perigo da interpretação pessoal. O princípio da interpretação pessoal não significa que o povo de Deus tenha o direito de interpretar a Bíblia da maneira que bem entender. Juntamente com o "direito" de interpretar as Escrituras vem também a responsabilidade de interpretá-la corretamente. Os crentes têm liberdade de descobrir as verdades da Escrituras, mas não são livres para fabricar suas próprias verdades. São chamados para entender os sólidos princípios de interpretação e evitar os perigos do subjetivismo.
 
Portanto, buscar um entendimento objetivo das Escrituras de maneira nenhuma reduz a Bíblia a algo frio, abstrato e sem vida. O que estamos fazendo é buscar entender o que a Palavra diz em sus contexto antes de prosseguirmos para a tarefa igualmente necessária de aplicá-la à nossa vida. Uma declaração em particular pode ter numerosas aplicações pessoais possíveis, mas só pode ter um único significado correto. O direito de interpretar a Bíblia leva junto consigo a obrigação de interpretá-la com exatidão. A Bíblia não é um "nariz de cera" que pode ser moldado e assumir a forma desejada pelo intérprete.
 
R. C. Sproul
In: 1º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. Excelente comentário. Que nos desprendamos do subjetivismo que tanto tem levado o povo de Deus ao cometimento de atos terríveis e aceitação de práticas inconcebíveis, e passemos a interpretar a bíblia através do seu significado contextual, sob um prisma objetivo, de tal forma que a verdadeira essência bíblica salte aos nossos olhos quando estivermos meditando na palavra e nos cause uma verdadeira mudança de vida.

    ResponderExcluir

"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

Sua leitura deste post muito me honrou. Fique à vontade para expressar suas críticas, sugestões, complemetos ou correções. A única exigência é que seja mantido o clima de respeito e cordialidade que caracteriza este blog.